Complexa a escolha entre "III Sides To Every Story" (1992) ou seu antecessor, "Pornograffitti" (1990), para dizer que se trata do grande disco do excelente Extreme - e, por consequência, o disco "do coração" deste blog. Tratarei, pois, do épico "III Sides..."; mas com a certeza de que um dia virei analisar mais detidamente "Pornograffitti".
A verdade é que o Extreme é daquelas bandas altamente técnicas, mas pouco reconhecidas, a despeito de ter revolucionado a cena à qual pertencia (o Hard Rock oitentista) com um estilo muito peculiar. Guardadas as devidas proporções, os coloco ao lado, por exemplo, do Living Colour - já tratado por aqui, com destaque ao clássico "Vivid".
Sim, o Extreme foi muito além do puro rock'n roll. Logo achou uma sonoridade de muita sofisticação, versatilidade e personalidade, sem deixar de ser contundente em sua proposta. Se pensarmos no marco que foi "Pornograffitti", foram daqueles grupos que consagraram, por exemplo, a vitoriosa e sempre bem vinda junção do funk com o peso do rock.
Mas "III Sides..." surpreende porque levaram toda sua variedade para um novo patamar. A sofisticação migrou para um nível mais sutil, passando pela produção e por detalhes nas composições, que tomaram contornos mais finos, grandiosos, épicos. Tudo é belo, inteligente e poderoso nesta obra. Aquela essência única da banda, que já flertava dinamicamente com diversas fontes, parecia ter encontrado um caminho definitivo, e não menos genial.
A sagacidade da obra passa por toda sua concepção. Imagine um disco, com dois lados. Pois este, de cara, já tem TRÊS: "Mine", "Yours" e "The Truth" - os famosos três lados de qualquer história ou relato. A inteligência reside ainda nas letras, que exploram a sociedade, a família, a guerra, a política, passando pelo racismo, e até por uma canção inspirada em Martin Luther King Jr. - "Peacemaker Die" inclui partes de seu famoso discurso. De fato, o disco é repleto de introduções inspiradas, partes faladas, orquestrações, que dão um toque todo especial a cada faixa.
Ainda merecem destaque a introspectiva parte "Yours", após toda a energia ímpar de "Mine". Em "Yours", o clima se acalma, mas nada aqui é óbvio. Explica-se, talvez, porque o álbum não emplacou nenhum hit / balada do porte de "More Than Words" do disco anterior.
Por fim, "The Truth" fecha a obra-prima, sendo uma pequena e notável obra-prima em si mesma, contando com uma orquestra real para soar tão intensa, como realmente soa - e como o álbum inteiro soa, em muito apoiado na técnica e inspiração do guitarrista Nuno Bettencourt, além do excelente vocal de Gary Cherone.
Essencial para quem não sabe que o Rock'n Roll pode soar de variadas formas, sem perder seu vigor.
Extreme - "III Sides To Every Story" (1992)
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