domingo, 31 de março de 2013

LEPROUS





Comentei algumas vezes neste blog acerca daquele modo mais refinado e sofisticado de se encarar o Prog Metal, o que parece trazer um maior conteúdo à sonoridade desenvolvida. Especulei, também, acerca das influências deste direcionamento, que pode beber em diversas fontes, flertando com o Melodic Rock/AOR, com o prog rock, ou mesmo aquele rock mais alternativo, teatral e cheio de recursos, que se convencionou chamar de "art rock" (que, em muito, é o progressivo com outro nome).


Desde o início, podíamos apontar que este era o caminho dos instigantes noruegueses do Leprous. Como sempre é dito por aqui, quando a gama de influências é muito ampla, e não se consegue, de imediato, apontar as referências de uma certa banda, certamente isso indica que algo inovador e de personalidade eles fazem.


Não é diferente neste caso. As construções musicais não são nada óbvias, o grupo apresenta boa desenvoltura indo do calmo e acústico ao agressivo e extremado, de modo coeso e empolgante. Alternam as vozes também, trazendo variedade para o som em diversas modalidades, e jogando bem com os recursos que apresentam.


A banda ainda peca um pouco por apresentar alguns "clichês" do chamado "prog metal", mas em nenhum momento deixam a peteca cair. A maior prova disso, até o momento, foi o (até aclamado, com justiça) disco de 2011, o ótimo "Bilateral". A banda parece ter aparecido de vez no "mapa" da cena metálica mundial.


Se seguirem um caminho criativo e original, como esse que prometem seguir com base em seus dois primeiros lançamentos, sem redundar em "fórmulas", merecem cada vez mais destaque e uma trajetória de sucesso nessa nova vanguarda da música pesada.


Por ora, possuem a total admiração deste blog.



http://www.leprous.net/

http://en.wikipedia.org/wiki/Leprous




SPECIAL: El-P & Killer Mike





Abaixo, o clipe de 2012 e a recente apresentação no programa de David Letterman em 2013, de "Untitled". A música faz parte de uma nova obra-prima do rap mundial, lançada ano passado por KILLER MIKE, o excelente "RAP Music".


A produção fica por conta de um dos ícones modernos do underground do hip hop, EL-P, em mais uma parceria vitoriosa. Ele mesmo se apresenta já com uma sólida carreira solo, apresentando uma vertente mais agressiva, mas não menos sofisticada, do rap atual.


Ambos são expoentes do que chamaria de uma nova fase do hip hop, que volta a viver uma espécie de época de vanguarda, com grandes trabalhos sendo lançados, e colaborações entre mentes brilhantes e promissoras revelações - algo que parecia latente desde os anos 90 (sobre o quê falei no post do clássico 'Illmatic'), mas que parece ter encontrado, especialmente em 2012, uma 'confirmação' de direcionamento, tamanha a quantidade de notáveis obras lançadas, encabeçadas certamente pelos dois artistas citados neste post.



El-P e Killer Mike. Para ficar atento ao que são capazes, numa geração que voltou a executar aquele meio-termo certeiro, em que o hip-hop ganha em refinamento sem perder em vigor, além de sempre se mostrar renovado, criativo e rico em recursos.



Altamente recomendados!!!



Killer Mike - "R.A.P. Music" (2012)

El-P - "Cancer 4 Cure" (2012)
















sexta-feira, 29 de março de 2013

SECRET CHIEFS 3





Para explicar o que é uma das bandas mais criativas da atualidade, devemos fazer referência à figura de seu líder, o genial Trey Spruance. E para (tentar) explicar quem é este inquieto multi-instrumentista, talvez a melhor forma seja, de imediato, fazer menção a seu currículo, que abrange a vanguarda experimental da música pesada, tendo tocado com o MR. BUNGLE (membro fundador), FAITH NO MORE (do "King For A Day...") e sido o 'Neck Head' do incrível FAXED HEAD - banda magistral dos porões do underground metálico noventista.


Com essa "singela" apresentação, vamos aos 'chefes secretos' de Trey. Basicamente, a maioria dos nomes ligados à vanguarda do heavy metal caminha lado a lado com o Secret Chiefs, ou se revela nas bandas e projetos paralelos de seus diversos membros e convidados. Logo, o aviso é: quer novidade no mundo do rock/metal mundial? "Estude" o Secret Chiefs 3 a fundo!


Quanto ao som em si, sempre há uma dificuldade incrível de se apontar as influências das bandas que aqui mostramos, pois se a ideia é mostrar quem anda fazendo um som de personalidade e criatividade únicas, não dá, por óbvio, para se dizer que efetivamente se parecem com algo. No caso dos SC3, poderíamos buscar usar as referências já apontadas... Mr. Bungle (do qual surgiu), Faith No More... algo dos mirabolantes Sleepytime Gorilla Museum, ou do Shining, bandas que trazem explicitamente o jazz para o heavy... mas são só palpites por alto, o esquema é escutar o que Trey e sua turma oferecem a cada obra que ousam lançar.


Também se destaca a proximidade com o surf rock, além da world music, a música étnica, e estilos como o klezmer judeu. De imediato, pensa-se em JOHN ZORN, fonte óbvia de inspiração, sendo que Trey já tocou com o mestre, além de terem dedicado um disco a revisar "The Book Of Angels" (peça do Masada, de Zorn).


Ao vivo, o grupo ganha ainda mais na intensidade das performances, o que é fundamental! A formação que veio ao Brasil em 2012 incluía Trey (guitarra/sax),  Timb Harris (guitarras, violino - Estradasphere),  Toby Driver (baixo - Maudlin Of The Well, Kayo Dot),  Matt Lebofsky (teclados - miRthkon, Faun Fables)  e Ches Smith (bateria - solo, Trevor Dunn, Moe! Staiano, Aaron Novik, Marc Ribot).

Levando em conta os currículos individuais e bandas conexas envolvidas, é uma senhora seleção, conforme já dito, da vanguarda do rock moderno.


O SC3 representa tudo o que este blog deseja na música atual. Especialmente na música pesada.



http://www.secretchiefs3.com/

http://www.webofmimicry.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Secret_Chiefs_3




FROM THE HEART:
Elton John - "Elton John" (1970)





Já destaquei algumas vezes a importância do lado mais teatral das composições e suas interpretações, seja no âmbito do rock'n roll, ou em que estilo seja. Uma boa canção ganha muito em intensidade se sua dinâmica e toda sua estrutura puderem estar direcionadas a algo menos mecânico, e mais cativante, VIVO, elevando-a a outro patamar.


Falei do rock pesado, mas é algo que cobro muito da música de forma geral. E os grandes exemplos de quem a faz com o coração são sempre devidamente reverenciados por aqui. Mas, neste post, fui aos primórdios dessa vertente, num disco que tem muito do rock, do pop e de uma série de elementos que seriam mais bem explorados a partir dele.


Refiro-me ao mestre Elton John e, em especial, a esta pérola de seu início de carreira. Elton produziria obras talvez até mais ricas, sofisticadas (sofisticação é sua marca!) e grandiosas ao longo de sua carreira. Mas a descontração, a desenvoltura que já mostrava em 1970, com tamanha potência, com composições tão belas, já tão marcantes e empolgantes, e tudo comandado com maestria do alto de seu piano - instrumento que é outra de suas marcas, mas ainda mais privilegiado neste início de carreira. Tratava-se de algo realmente à parte na cena.


Estamos aqui a alguns anos de distância do Hard Melódico/AOR, por exemplo. Vinha-se, aliás, da década dos Beatles, do The Who. 1970 é ainda, por exemplo, o ano que Andrew Lloyd Webber montaria seu épico "Jesus Christ Superstar". E a partir de tudo isso, monstros do porte de David Bowie, Meat Loaf, Alice Cooper e o próprio Queen trariam muito dessa aura criativa e performática para suas respectivas carreiras, que também ali se iniciavam


E lá, emparelhado com todos os citados, se encontrava esta mini obra-prima, de sir Elton John, figura que mudaria o pop/rock mundial para sempre.


Permita-se viver essa obra!



Elton John - "Elton John" (1970)




http://www.eltonjohn.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Elton_John





REFERÊNCIA: Laurie Anderson


Laura Phillips Anderson
05/06/1947
Glen Ellyn, Illinois (EUA)




A grande diva da música experimental.


Ousada e performática por excelência. Nada é óbvio quando se trata dela, nem sequer os instrumentos que utiliza.


Como artista, suas parcerias incluem nomes como John Zorn, Peter Gabriel (fiz menção à essa famosa parceria neste post), Jean Michel Jarre, seu marido Lou Reed, e até mesmo Marisa Monte.


Musa - e referência - deste blog!



http://www.laurieanderson.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Laurie_Anderson




quinta-feira, 28 de março de 2013

FROM THE HEART:
Landmarq - "Infinity Parade" (1993)





Sempre gostei daquele lado sofisticado do Prog Metal. Digo, o chamado "progressive metal" certamente abarca as mais variadas facetas da música pesada. De fato, qualquer estilo ou sub-estilo de Heavy Metal pode tender ao "prog", se tratando muito mais de um direcionamento musical, ou elemento que evidencia a proposta sonora de uma banda, do que propriamente de um "estilo"- mas muitos discordam dessa visão.


Ainda assim, e se atendo às bandas mais "clássicas" do Prog, há as que privilegiaram esse lado mais refinado e 'cabeça' de encarar o estilo (algo trazido do art rock, ou do melodic/AOR talvez), passando por letras mais profundas e bem sacadas, além de uma dinâmica bastante única em seu som.


Coincidentemente ou não, o vocalista Damian Wilson figurou em muitos dos grupos e projetos que me vêm à mente quando penso nesse tipo de sonoridade que procuro descrever. Exemplos não faltam, passando por sua própria (e pouco divulgada) carreira solo, as colaborações com Arjen Lucassen nos ousados Ayreon e Star One, dentre tantos outros. Há também, obviamente, sua banda principal, o THRESHOLD (para a qual recentemente retornou), representação de toda aquela sofisticação, lírica e musical, à qual me referia.



Mas tratamos aqui de um disco, por incrível que pareça, ANTERIOR a tudo isso. Até por se tratar de uma banda do início dos anos 90, não é exagero dizer que se encontra na vanguarda do estilo Prog Metal - ainda que pouco evidenciada até hoje.


O disco em si é o segundo lançamento do Landmarq - à época, contando com os vocais potentes e majestosos do citado Damian Wilson (que, além do Threshold e Ayreon, já cantou com Rick Wakeman e até interpretou Jean Valjean na peça Les Misérables - logo, está bem longe de ser um vocalista qualquer).



Considerando o ano e a época do lançamento, seu vocalista (que viria a possuir um currículo tão rico e extenso) e a qualidade do disco, sem dúvida mereceria figurar entre os principais do estilo. Porém, assim como sua 'sucessora' Threshold, o Landmarq jamais decolou enquanto banda. O que é realmente uma pena.



Falando da obra em si, enchem os olhos composições do porte de "Ta'Jiang" e "Tailspin (Let Go The Line)", longas, belíssimas e certeiras em não deixar cair o pique ao longo de sua duração. Vale destacar ainda, e MUITO, a excelente "The More You Seek, The More You Lose", precursora de todo aquele padrão a que me referi no primeiro parágrafo. Com um refrão bombástico e uma letra inteligente, como pede o estilo, já vale o álbum!


Ouça e se renda àquele clima único do prog metal noventista, em um registro primordial.



Landmarq - "Infinity Parade" (1993)




http://landmarq.net/

http://en.wikipedia.org/wiki/Landmarq





FROM THE HEART:
New Order - "Low-Life" (1985)





O Joy Division é qualquer coisa única. Intenso, seminal, visceral. Não discordarei!


Entretanto, sempre tive uma paixão especial pelo New Order. Todos os elementos referenciais do Joy Division estão ali (perda inclusive em interpretação e dramaticidade), e, mesmo com a perda irreparável de Ian Curtis, fato é que encontramos uma banda ainda mais solta e disposta a explorar novos sons. Mergulharam nas tendências eletrônicas oitentistas com maestria, constituindo e influenciado todo aquele movimento entre a new wave, a darkwave e o gothic reinante por aquela época - a qual vivia a vanguarda do estilo.


E o New Order se destacou com louvor! A verdade é que qualquer lançamento da banda ao longo dos anos 80 pode ser considerado um verdadeiro clássico, e geralmente são assim apontados. Não desprezo, no entanto - e de forma alguma - o que a banda fez ao longo das décadas seguintes. Embora até ache que perderam algum vigor em cima do palco, os álbuns lançados em 90 e 00 são da mais alta qualidade e tão empolgantes e sofisticados quanto tudo que a banda fez num passado mais distante.



Mas voltando à fase mais clássica do grupo, confesso que vejo mais referência a outros discos da banda que não este que aponto como meu preferido - preferido, diga-se, em todos os tempos! Ainda assim, é um clássico indubitável, e para mim o mais trabalhado, fino e sofisticado lançado por esses brilhantes ingleses.



Por fim, se me for permitida uma homenagem, este blog gostaria de destacar e reverenciar, em especial, a épica "Elegia". A obra-prima (música) dentro da obra-prima (disco). Se acredito que este disco muda uma vida, e mudou a minha... essa canção tem grande, enorme peso nisso. E, ela mesma, atinge e modifica, de alguma forma, quem a ouve!


Ah, que disco!



New Order - "Low-Life" (1985)




http://www.neworderonline.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/New_Order




quarta-feira, 27 de março de 2013

CATHEDRAL





Árdua tarefa falar sobre esta avalanche sonora chamada CATHEDRAL. Numa tentativa de situar o ouvinte, diria de cara que se trata de um grupo formado por Lee Dorrian (ex-Napalm Death) no início dos anos 90, sendo lançado por seu próprio e instigante selo, a Rise Above Records. Diria ainda que a banda anuncia seu  fim, sendo que o álbum "The Last Spire" pode ser (ou não) o derradeiro da brilhante carreira desses ingleses.


O que fica a nós, caçadores de novidades, porém, é a vasta e rica obra registrada nesses últimos (pouco mais de) 20 anos.


Ao longo de uma discografia impecável, o Cathedral pode facilmente representar a vanguarda de um heavy que se convencionou a chamar stoner/doom. Este último com aquela característica arrastada, não menos agressiva, mas quase hipnótica, que bebeu na dinâmica imposta por referências como o próprio Black Sabbath. O primeiro, porém, 'stoner', traz aquela pitada 'gordurenta' que pode remeter a um blues/rock, ou mesmo ao psicodélico.


Não é exagerado apontar que, com uma proposta que beirou o mirabolante, a banda tenha por diversas vezes flertado com o Prog. Pouco se fala, mas o 'doom', 'stoner' ou ainda 'sludge' (com elementos que vão do quase punk ao southern rock), todos tendem, ora ou outra, ao progressivo.



Todas essas ainda são meras tentativas de classificar um som que se mostrou, ao longo do tempo, realmente único! Muito advindo da incrível e arrebatadora massa sonora produzida, própria do estilo, mas elevada à enésima potência quando se trata do Cathedral. Ao flertar com o experimental, especialmente com a utilização de teclados, a banda se mostrou ainda mais sofisticada e cheia de recursos em alguns pontos de sua carreira. Via de regra, no entanto, macabra e soturna ao extremo, sempre... e isso foi (é) maravilhoso!



Como este blog recorrentemente aponta quem anda fazendo um novo tipo de Heavy Metal na cena atual, e como o Cathedral seguiu produtivo ao longo de toda a segunda metade dos anos noventa, e também por toda a década de 2000 - e até o presente ano de 2013! - nada mais justo do que reverenciar e destacar essa sonoridade ímpar, que soa precursora, vanguardista, referência, sem deixar de soar, até hoje, como exemplo de novidade e inspiração a cada obra lançada.



Por fim, vale ainda ressaltar o alto grau de dramaticidade que o som da banda ganha ao vivo, com as performáticas interpretações deste mestre chamado Lee Dorrian!




* recém-lançado vídeo de "Tower Of Silence":




http://www.cathedralcoven.com/

http://www.riseaboverecords.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Cathedral_(band)





MUSAS: Emily Haines





A cativante canadense Emily Haines transita por diversos caminhos. A pose perfeita, quase de modelo, poderia indicar até uma cantora pouco expressiva. Ao se ouvir sua voz, logo se vê que, muito pelo contrário, esta soa intensa e até bastante característica, criando um estilo próprio que ao longo dos anos tentou imprimir em suas diversas bandas e projetos.


Circulando desde os fins dos anos 90, estilosa, postou-se à frente do promissor Metric, revezando com diversas participações em outros projetos, sendo seu mais notório trabalho com o Broken Social Scene - encontrando ainda disposição para lançar seu Soft Skeleton, com o qual lançou, sob seu nome, "Knives Don't Have Your Back" (2006).


A garota é dinâmica e produtiva, sem dúvida, e as referidas bandas pra lá de empolgantes e competentes. Poderíamos dizer que o som do Metric, sua banda principal, projetava-se mais 'redondo' - embora diferenciado, já soando moderno e ganhando muito em personalidade com a bela voz da jovem. Já o Broken Social Scene, por ser um projeto mais amplo e colaborativo, tinha seus ares até mesmo mais experimentais. Por fim, seu Soft Skeleton trazia alguma introspecção por parte da compositora.


Porém, o mais importante a se destacar é o impactante talento da moça. Canta muito! Sensual sem maiores apelações. Cria todo um estilo com seu tom e postura, que pode ir do frio, quase blasé, até o auge da potência que sua voz alcança.


Por fim, vale destacar que o acertado METRIC também evoluiu junto com ela, e em 2012 lançaram algo digno de ser chamado de obra-prima. Qualquer coisa que, por mais talentosos que fossem, e por mais promissora que a proposta da banda pudesse parecer, dificilmente se esperaria de um grupo como aquele. Refiro-me ao já clássico "Synthetica", um dos grandes discos do ano passado, e ao qual este blog ainda se dedicará no futuro.



Por ora, nos rendamos à espertíssima figura de Emily Haines:






http://ilovemetric.com/

http://www.emilyhaines.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Emily_Haines




FROM THE HEART: Tricky - "Maxinquaye" (1995)






Alguns discos possuem a "cara" dos anos 90. Podemos transitar por obras do Alice In Chains, Faith No More, Rage Against The Machine, e aquilo simplesmente nos transporta para aquela época já nostálgica, em que o rock era desacreditado, ao mesmo tempo que altamente produtivo - embora naquele tempo isso fosse negado.


Também era a época de abertura a novos estilos. Como já dito neste blog, o hip hop teve seu auge de "vanguarda" por aqueles anos. Estilo rico como é, em seu constante e latente flerte com o jazz, influenciou e foi influenciado por tudo o que acontecia a seu redor, e que pedia por uma aura de sofisticação.


Não diferente o que acontecia com a música eletrônica, visitando e bebendo de diversas fontes, desde seus primórdios setentistas e oitentistas, indo do mais contundente (produzindo mais discos com a "veia" noventista, a la Air, Daft Punk, Chemical Brothers), ao mais sutil, ao som mais ambiente e refinado de bandas como Portishead, ou o seminal Massive Attack.



Porém, nesse intenso mix musical noventista, um disco parecia "correr por fora". De fato, foi uma das obras essenciais para denominar aquele estilo tão único e diversificado que vinha sendo construído até então, o chamado Trip Hop. Um disco sem dúvida muito especial para este blog, pois embora muito estivesse acontecendo, inclusive dentro daquela mesma cena, nada soou tão forte e vigoroso - principalmente para um estilo, em tese, tão delicado e rico em detalhes.



O álbum de estréia do rapper e produtor Tricky, "Maxinquaye" (1995), leva o nome de sua falecida mãe, que se suicidou quando aquele era ainda pequeno. A partir daí, não é difícil imaginar a dolorosa fonte de inspiração para um som tão 'pesado', dilacerante e dramático quanto o ali produzido.


E esse é o tom do álbum todo. Todas as faixas parecem ter missão de mexer emocionalmente com o ouvinte, por meio de um som penetrante. A riqueza passa, conforme dito, pelos detalhes. Passa pelas letras, pelos elementos usados, os ritmos ali reunidos e os climas tão bem criados e direcionados.



Altamente recomendável!



Tricky - "Maxinquaye" (1995)



http://www.trickysite.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Tricky





terça-feira, 26 de março de 2013

FROM THE HEART:
Rush - "Moving Pictures" (1981)





Complexa a tarefa de eleger o melhor disco do Rush ou, ainda, qual deles seria o mais especial para este blog. Tenho a banda como referência do rock progressivo, vez que o fez de maneira realmente única, unindo o prog ao hard, produzindo uma massa sonora muito rica, variada, complexa, e acima de tudo empolgante, ao longo de toda carreira - lembrando sempre que todos esses feitos alcançados sendo apenas um trio, talvez o maior 'power trio' da história, e com o mérito de, até os dias de hoje, conseguirem reproduzir com fidelidade toda essa riqueza sonora ao vivo.


O Pink Floyd conta com obras geniais e também constitui, obviamente, a vanguarda do gênero. Mas eu diria que até mais, a influência do Floyd estrapolou o rock, a banda e sua sonoridade se tornaram referência para a própria música de uma forma geral (o que não quer dizer que os prefiro, embora muito os reverencie). PORÉM, dentro do rock'n roll propriamente dito, o peso e contundência do Rush fizeram a diferença, eis que a banda é das grandes referências deste blog - dividindo este posto de "reis do prog" talvez apenas com o insano King Crimson, outra banda da qual voltaremos a falar bastante.



Voltando à discografia dos canadenses, complexa a escolha entre o Hard bem definido do início de carreira, ou uma obra tão bela do porte de um "2112" (1976), ou aquele material, que é o normalmente apontado como auge criativo do grupo, que abriga "Hemispheres" (1978) e "Permanent Waves" (1980), onde realmente consolidaram seu tipo de som - aquela massa sonora única à qual me referi.


Tampouco se pode ignorar o que a banda fez ao longo do fim dos anos 80 e dos anos 90, sendo que refinou seu som e o direcionou a novos estilos, o constituiu de novos e ousados elementos - ora de modo sutil, ora mais evidenciado (o Rush é daquelas bandas que podem passear pelos mais variados e improváveis estilos, sem deixar de soar como Rush) - resultando nos ótimos "Presto" (1989), o excelente "Roll The Bones" (1991), além de "Counterparts" (1993), "Test For Echo" (1996), para citar apenas alguns.


Por fim, sempre competentes, mas desde 2000 sem lançarem nada de maior impacto, o Rush surpreendeu em 2012 aprontando a obra-prima "Clockwork Angels" - disco que, sem exagero, pode figurar tranquilamente entre os melhores e principais de sua vasta e interessantíssima discografia. Grata surpresa!



Tudo isso fica de registro, porém, apenas para justificar a escolha até "óbvia" deste blog, que optou por destacar mesmo "Moving Pictures", de 1981. É o disco mais especial para o blog, é o disco que introduziu o Rush, e não deixa de representar o meio-campo entre o potente som feito até o "Permanent Waves", e o ganho em refinamento e sofisticação que a sonoridade da banda apresentaria dali para frente.

(além de ser incrível como cada canção deste álbum se tornou quase "hit", músicas atemporais e praticamente todas obrigatórias nas apresentações da banda até hoje - inclui "XYZ", a instrumental mais famosa da história do rock)


Um marco!



Rush - "Moving Pictures" (1981)



http://www.rush.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Rush_(band)



PLAY: Sigur Rós




Em seu novo vídeo, o sempre ótimo e intenso Sigur Rós, banda que sempre prezou pela riqueza de detalhes, nos mostra uma sonoridade mais soturna e até mesmo mais pesada e contundente que o habitual. Sinal de um excelente álbum a caminho.


Sigur Rós - Kveikur (2013)










sexta-feira, 22 de março de 2013

MUSAS: Björk





"every time I start an album , i’m in a place i've never been"

Björk







SPECIAL: Bohren & Der Club Of Gore





Belíssima banda alemã, formada no início dos anos 90, com 3 lindos álbuns lançados até 2000, culminando com o ótimo "Sunset Mission". A partir dele, ainda mantém sólida e apurada discografia, com destaque para "Dolores" (2008), de onde saiu este recente video de "Welk".


Soturnos e intensos, com uma veia artística muito ressaltada:



http://www.bohrenundderclubofgore.de/

http://en.wikipedia.org/wiki/Bohren_&_der_Club_of_Gore











quinta-feira, 21 de março de 2013

UNEXPECT





Interessante banda progressiva vinda do Canada, o ótimo UneXpect segue a linha épico/vanguardista que alia a proposta grandiosa de bandas e artistas como Arcturus, Kovenant, Devin Townsend ou Ihsahn, e até mesmo dos geniais Diablo Swing Orchestra e Sleepytime Gorilla Museum, com suas incomuns fusões de estilos absolutamente improváveis.


Esses canadenses, porém, ainda jogam com uma sonoridade moderna, mostrando personalidade e originalidade em meio a um Heavy bastante truncado e técnico, sendo que administram influências com maestria - e não se parecendo, efetivamente, com nada que seja habitual.


A sofisticação passa ainda pelos arranjos criativos e pouco usuais, com vocalizações e coros fortes, marcantes, e que podem beirar o apoteótico. Essa faceta ficou evidenciada num dos grandes discos do ano de 2011, o potente "Fables Of The Sleepless Empire".


Ainda assim, quando a banda surgiu, considerei que a grande sacada do grupo foi a utilização de elementos quase teatrais, que me encheu os olhos trazendo um tom dramático às composições, além de maior variedade musical ao longo do disco todo.


Tanto que "Fables..." soa mais coeso, um petardo do começo ao fim, sem perder em criatividade - o que é sempre louvável. Mas ainda vejo em "In A Flesh Aquarium" (2006) a GRANDE obra-prima da banda até o momento!


Se em pouco mais de dez anos de formação, e com apenas quatro discos lançados, a banda já lançou álbuns tão impactantes e diversificados entre si, sem dúvida tomam lugar como uma das grandes apostas em, como sempre se diz neste blog, uma nova forma de se fazer música pesada em suas infinitas tendências.


Ouvidos abertos ao espertíssimo UneXpect!


http://unexpect.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Unexpect





SPECIAL: Rob Mazurek




"O ruído pode ser seu amigo, se você não estiver programado de uma maneira que não te permita escutar a beleza no ruído."


"Presenciar borboletas azuis translúcidas na Floresta Amazônica, uma tempestade em Brasília ou ouvir enguias elétricas no INPA em Manaus constituem influências tão importantes como foram Art Farmer, Bill Dixon, Miles Davis, Alan Shorter, Chet Baker e Don Cherry."


Rob Mazurek


http://www.robmazurek.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Rob_Mazurek





PURE REASON REVOLUTION





Já comentei algumas vezes sobre as maneiras de se inovar dentro da música. Especialmente dentro do rock onde, erroneamente, o público se acomoda, achando que tudo já foi feito - e, pior, que assim deve ser e pronto.


Mas, felizmente, não é!


Saudável discussão, porém, fica por conta dos caminhos a serem trilhados em busca da inovação. Já citei por aqui (ou vou citar) bandas que simplesmente fizeram a música pesada soar de um novo jeito, mexendo na estrutura das composições, criando algo único e revigorado desde a origem. Outros investem em elementos ainda mais ousados e grandiosos, tomando o termo 'avant garde' ao pé da letra, levando a cabo propostas que passam o experimental, beiram o mirabolante. Outros, ainda, vão flertar com os mais variados estilos, trazendo, muitas vezes, a riqueza e originalidade do som para o nível dos detalhes, da sutileza.



Caminhos não faltam. Falta, porém, em qual dessas propostas tentar encaixar o Pure Reason Revolution.



A estrutura das obras da banda são pouco óbvias, isso se nota. Porém, evidenciam-se tanto mais pela utilização perspicaz de variados estilos. Às vezes de modo mais misterioso, diluído, latente. Mas muitas vezes, destacam-se pela abordagem épica e avassaladora da sonoridade que produzem.


O Heavy Metal, que coordena as composições, se alia mais preponderantemente ao ritmo eletrônico, dando um 'quê' futurista à sonoridade desses ingleses. Harmonia e melodia em doses cavalares, aliadas ao peso de guitarras distorcidas, já tornam o som bastante único e bem sacado, mas não param por aí.

A banda ainda força os limites do convencional com coros vocais sobrepostos, ora combinando o masculino e o feminino (com destaque para a multi-instrumentista Chloe Alper), ora partindo para o apoteótico, acompanhando o restante da proposta ousada do grupo.


De cara, já poderíamos puxar influências das mais diversas bandas e estilos. Trazem toda a técnica e a aura sofisticada do Prog Metal moderno (sem jamais perder em peso e objetividade), com climas e ambiente que remetem desde o prog / art rock à música eletrônica, e com os vocais remetendo ao lado teatral do hard rock, e aos coros clássicos de bandas como Beach Boys, Beatles, The Who, dentre tantos outros.


Todo o dito até aqui são apenas análises com o fim de apresentar o som da banda, que passou despercebida pelo cenário roqueiro da última década. Resta, é óbvio, efetivamente escutar e se familiarizar com a proposta realmente única do PRR, pois aviso que vale a pena.


É ouvir rock como você jamais imaginou ouvir antes!


Uma pena que a banda anunciou seu precoce fim em 2011...



http://chloealper.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Pure_Reason_Revolution





terça-feira, 19 de março de 2013

FROM THE HEART: Red Hot AIDS Benefit Series - "Stolen Moments: Red Hot + Cool" (1994)





Acredito que todos os discos da "RED HOT AIDS BENEFIT SERIES" são altamente recomendáveis. A causa nobre moveu artistas do mais alto calibre, e dos mais variados estilos, que se reuniram em cada volume de acordo com o gênero de música em que são mestres, realizando parcerias antológicas e, no resultado final, um apanhado de obras notáveis.


A ideia, realmente, é dar uma conferida em cada disco separadamente. Todos com uma notável seleção e sets incríveis.


De primeira, mando o que talvez seja o mais importante para este blog. Até porque, senti que houve um capricho especial na seleção destes músicos - e as parcerias são pra lá de bombásticas!


Este seria o disco que mais bebe na fonte (e aqui digo, literalmente, na FONTE) do jazz. Do free jazz, do funk, soul e hip hop. A obra, de 1994, traz nada menos que Don Cherry, Ron Carter, Pharoah Sanders, Herbie Hancock, Roy Ayers e Bernie Worrel na linha de frente. Soa até como covardia...


Para as demais faixas, e em parceria com esses gigantes (todos referências de inovação e vanguarda dentro de seus estilos, e igualmente referências deste blog), alguns dos mais aclamados nomes da geração da época. Muitos deles se tornaram eles mesmos referências, quando olhamos para o estilo HOJE, tanto que muitos dos coletivos e rappers ali presentes enxergamos como precursores do jazz/funk e do hip hop moderno, a exemplo do The Roots, Groove Collective, Us3, Gang Starr, Young Disciples, The Last Poets, The Watts Prophets, dentre outros nomes associados.


Porém, devemos pensar que era a primeira metade dos anos 90, e muito estava sendo feito NAQUELE momento, e dali em diante. De fato, vivemos ATUALMENTE numa era muito criativa e prolífica do hip hop, e um novo auge da sua junção com as mais variadas e ricas vertentes. Voltando 20 anos no tempo, portanto, esse disco consegue chamar AINDA MAIS a atenção, até por essa faceta absolutamente visionária.


Por fim, vale dizer que o título do disco vem da faixa "Stolen Moments", que ganha sua releitura na obra (pela épica United Future Organization), mas originalmente é uma das grandes peças do falecido compositor Oliver Nelson.



Sem muito mais o que dizer, pois é o tipo de obra cuja escalação já ganha o jogo (conforme, dito, especialmente se a enxergamos agora, tantos anos depois), e enche os olhos de qualquer fã do estilo, além de servir de introdução para quem quer com ele se familiarizar.


Na coleção deste blog, é um marco!



The Red Hot AIDS Benefit Series - "Stolen Moments: Red Hot + Cool" (1994)