sexta-feira, 23 de maio de 2014

ORPHANED LAND





Os israelenses do ORPHANED LAND não são exatamente uma "descoberta" no âmbito metálico. Já vêm construindo um bom nome ao longo de mais de uma década, com destaque para o fato de o grupo ser de Israel - saindo do eixo geográfico comum na cena. Destaca-se tal fato, principalmente, porque vir de um país periférico (em relação à Europa e EUA) e conseguir se impor com relevância, personalidade e, acima de tudo, ORIGINALIDADE, é matéria para poucos (que o diga o brasileiro Sepultura).


Mas, conforme dito, não basta ser de um país "incomum". Deve mostrar a que veio.


Rótulos são dispensáveis para o Orphaned Land. Há melodia, há folk, há as óbvias raízes orientais, pendendo para o lado heavy e alcançando o metal extremo em diversas passagens. A complexidade geral do som, por sua concepção, pelas composições e pela constante busca de novos elementos sonoros e jogo de influências, leva inevitavelmente ao Prog Metal - um progressivo bastante peculiar.



Mas toca-se novamente na tecla da "música oriental", aqui tomada em sentido lato e sem muita precisão. Remetemo-nos à música árabe, ao próprio klezmer israelense, e a todo o conceito étnico que o grupo prega - inclusive, diga-se, levantando a bandeira da união e tolerância entre povos tão beligerantes e segregados.



Para fazer essa junção, é preciso saber fazer. Não, o Orphaned Land não foi pioneiro, não foi o descobridor ou o primeiro a realizar o encontro do Heavy Metal com passagens da música oriental. Mas eles foram desbravadores em fazer do MODO como fizeram. Não é algo forçado, algo óbvio. Há sofisticação, o conceito permeia o som como um todo, é arte precisa e inteligente. Permitida a analogia, falamos de Sepultura, mas o ANGRA, no Brasil, foi dos únicos a fazer algo semelhante com a musicalidade brasileira (no disco "Holy Land").



Não basta se ter a "ideia" de imprimir a sonoridade local às guitarras distorcidas e pronto. Deve-se saber fazê-lo. E o OL o faz com sabedoria e leveza. Com dinâmica própria e reinvenção a cada disco, a cada faixa. De certo, louvável.



Eis porque merece todo o aplauso do blog e do público em geral.




http://www.orphaned-land.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/Orphaned_Land






FROM THE HEART:
The Who - "Tommy" (1969)





45 anos do que veio a se chamar de "opera rock".



THE WHO - "Tommy" (1969)






domingo, 18 de maio de 2014

PLAY: Winger, Brother Firetribe, H.e.a.t





Em um ano em que já destacamos a ótima revelação (apesar de se tratar de um "supergrupo") KXM, devemos fazer justiça a alguns lançamentos do pouco explorado âmbito (por este blog) do Hard Rock contemporâneo. O primeiro deles, de fato, é um dos clássicos, mas com alta sofisticação e capacidade criativa e de se reinventar. Os demais, emplacam empolgantes álbuns, de personalidade, dentro de um estilo, no todo, pouco inovador...






Kip Winger é um músico e compositor fantástico. A banda, que leva seu nome, sempre trouxe músicos magníficos e composições acima da média no hard/glam oitentista, com variedade e diversificação, sem perder a pegada incendiária muito própria do estilo.


Seu diferencial criativo reside ainda numa prolífica carreira solo, de poucos discos, porém finíssimos. Afastam-se, é verdade, do hard clássico, se orientando para um AOR e mesmo para o pop, mas tudo com altas doses de sofisticação e certo experimentalismo. "This Conversation Seems Like A Dream" (1997), logo em sua estréia, se mostra o auge do que é aqui tratado.


Mas voltando ao WINGER propriamente dito, a banda apresentou seus hiatos, mas voltou bem com "Karma" (2009), e agora nos brinda com um trabalho exemplar, recheado de hits com veia atualizada e proposta muito madura, marcas de Kip Winger. "Better Days Comin'" promete figurar na lista de melhores do ano de 2014, e será com muita justiça! Que a obra não sofra o típico preconceito e má vontade que costuma-se ter com o hard...



Winger - "Better Days Comin'" (2014)












Aqui, não diremos que se trata propriamente de uma surpresa, mas o competente BROTHER FIRETRIBE soltou um disco muito bem feito, também acima da média dentro do seu estilo. A banda, conhecida pelo seu disco antecessor lá de 2008, "Heart Full Of Fire", tinha evidência por ser o grupo com Emppu Vuorinen (Nightwish) - além daquele disco contar com a participação da então recém substituta de Tarja Turunen, a então revelação Annete Olzon.


O disco era bem sacado, a banda alcançou destaque, hard nórdico que esquentou as paradas. Mas em "Diamond In The Firepit" (2014) há algum amadurecimento, que se refletiu num disco que podemos considerar bom do começo ao fim. E o melhor, bastante empolgante, como o hard rock pede. Logo, não é um primor de originalidade, mas tem atitude e não se resume ao "mais do mesmo" que afunda o movimento.


Para se deliciar:



Brother Firetribe - "Diamond In The Firepit" (2014)












Por fim, de histórico muito parecido ao do Brother Firetribe, mas mais produtivos, os suecos do H.E.A.T despontam também com um agradável disco (para os fãs do estilo). Diria que muitas vezes soam até mais modernos que o BF, mas algumas partes remetem ao que há de mais clássico e comum do hard oitentista. Jogando bem com tais elementos, o todo do disco acerta em cheio, merecendo ser destaque igualmente!



H.e.a.t - "Tearing Down The Walls" (2014)










domingo, 4 de maio de 2014

FROM THE HEART: Rage Against The Machine - "The Battle Of Los Angeles" (1999)





A partir deste, o 33º álbum citado como sendo digno de ser "do coração" do blog, passaremos a evitar grandes resenhas a respeito do disco (aumentando a agilidade das postagens), deixando que ele fale por si só.


Sobre este clássico do RATM, o blog já exaltou as grandes bandas que flertaram com doses de funk, trazendo-o para o rock'n roll (Living Colour, Extreme, Red Hot Chili Peppers, etc.)... sendo que o RATM ainda traria toda a distorção e o groove do alt metal, em voga na segunda metade dos anos 90. A nosso ver, nesta terceira empreitada foram criativos e viscerais, possível auge das marcas do grupo, que entraram para a história!


Sonoridade tão pesada e empolgante, e de tanta personalidade, aliada a letras politicamente conscientes, os tornam dos grupos mais importantes do rock - ainda que, no novo século, infelizmente tenham nos deixado mais carentes de novos lançamentos.


Rage Against The Machine - "The Battle Of Los Angeles" (1999)




REFERÊNCIA: Ornette Coleman


Randolph Denard Ornette Coleman
09/03/1930

sexta-feira, 2 de maio de 2014

MUSAS: Neneh Cherry





Há algum (bom) tempo sem lançar material solo, NENEH CHERRY nos brindou com o mágico encontro entre ela e o THE THING do incansável Mats Gustafsson & cia. "The Cherry Thing" certamente figurou entre os principais lançamentos de 2012, e provavelmente uma das obras mais deliciosas desta década.


A boa notícia é que uma criativa e bombástica filha do mestre Don Cherry nos brinda em 2014 com "Blank Project"... e após "The Cherry Thing", manter a expectativa e a qualidade tão altas poderia ser um desafio, mas não para tão refinada e talentosa artista, que atinge a perfeição com o disco - possivelmente figurando na maioria das listas de discos do ano. Será no mínimo justo.



Neneh Cherry - "Blank Project" (2014)








http://nenehcherry.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/Neneh_Cherry






quinta-feira, 1 de maio de 2014

PLAY: KXM





Uma das gratas surpresas deste 2014 é o lançamento do KXM, juntando o guitarrista George Lynch (Lynch Mob, Dokken), o vocalista/baixista Doug 'Dug' Pinnick (King's X, Poundhound, The Mob) e o baterista Ray Luzier (Korn).


Após uma bela banda, de disco badalado, como foi o Winery Dogs no ano passado, aqui temos um projeto tão ou ainda mais interessante. Nada contra a banda do baterista Mike Portnoy, mas o hard rock proposto pelo WD, embora vigoroso e até certo ponto original, não se comprometeu tanto com inovações como os projetos do ex-Dream Theater costumam sugerir.


Aqui neste KXM, a sacada também foi reunir 3 caras de mente aberta e influências diversas, embora acredite que o trunfo está com Doug, do exímio King's X. Trouxe a diversificação necessária ao hard de Lynch, que também costuma se aventurar em inúmeros projetos, sem contar a batera de Ray - que traz o Korn no currículo, mas, por exemplo, já tocou com David Lee Roth!



O resultado não poderia ser outro, senão instigante e empolgante, sem deixar de soar rock'n roll:



KXM - "KXM" (2014)








FROM THE HEART: Savatage - "Streets: A Rock Opera" (1991)





"These streets, glitter in the dark..."


O blog poderia citar alguns outros discos do gigantesco SAVATAGE, ou mesmo de muitos dos projetos de JON OLIVA & cia., com destaques à belíssima Trans-Siberian Orchestra. O pontapé cru e fino em "Sirens / Dungeons Are Calling" (1983/84); a entrada triunfal de Paul O'Neill e Robert Kinkel no devastador "Hall Of The Mountain King" (1987) ou no teatral "Gutter Ballet" (1989); ou ainda a (positiva) megalomania e toda a pompa e diversificação musical presentes em obras do porte de "The Wake Of Magellan" (1997, possivelmente a mais complexa peça da dupla Oliva/O'Neill sob o nome Savatage) ou o derradeiro "Poets And Madmen" (2001).


Mas a deixa é para um disco que, além de histórico, foi relançado em 2013 neste incrível formato digipack, que inclui pequenas narrações entre as faixas ("Narrated Version"), tornando a rock opera completa, como foi concebida em sua origem. Mais: faixas-bonus e um DVD com a obscura videografia completa da banda - em qualidade bem melhor que as encontradas no youtube até então. Trata-se de "STREETS: A ROCK OPERA" (1991), finalmente em sua versão definitiva, conforme Jon Oliva nos explica no encarte do "novo" disco.



É maravilhoso poder reviver aquele clima, do final dos anos 80, e tentar imaginar o que representou Paul O'Neill para a dupla de irmãos Jon e Criss (RIP). Paul possuía praticamente pronta uma obra chamada "Gutter Ballet" (exatamente!), título original de "Streets", e apresentou a seus novos companheiros, que juntos puderam trabalhar, criar e inovar sobre ela. Um marco para a música pesada, pena que pouquíssimo reconhecida pela mídia e público metálicos.



Detalhe que "Jesus Saves" se apresenta em sua mítica versão alternativa (a que inclui coros que remetem ao gospel no refrão), que já havia sido divulgada em faixas-bônus de alguns discos do SAVATAGE, mas aqui ocupa o lugar que era originalmente seu. Talvez um dos discos mais diversificados dos americanos, aliando o Hard e o Heavy Metal a uma aura eminentemente progressiva, performática, com baladas de alto teor emocional, e que exigiram de Jon interpretações comoventes e históricas. Não à toa, se encerra com a clássica "Believe" - que aproveita partes de outro marco da banda, "When The Crowds Are Gone" do anterior "Gutter Ballet" (1989).



Eis o embrião do espírito a la Broadway, que já vinha sendo desenvolvido desde "Hall..." e Gutter...", e desembocaria nos demais épicos do próprio Savatage e do TSO.




(Re)Lançamento essencial, disco atemporal.




Savatage - "Streets: A Rock Opera" (1991)