Após passar por três bandas de sucesso, três das maiores e mais originais de nossa cena metálica nacional, afora um lindo projeto paralelo que foi o Virgo, ANDRE MATOS se viu simplesmente livre para tentar o que quisesse. No entanto, já deixava claro que não queria, novamente, fazer parte de uma "banda" propriamente dita - e após as traições que sofrera, tinha sua razão.
Vale dizer que, ao longo da década passada, Andre mostrou toda sua versatilidade fazendo inúmeras participações em bandas e projetos. Alguns questionáveis, talvez na tentativa de alavancar o heavy metal nacional. Mas, no geral, realizou feitos marcantes, participando de discos do projeto AVANTASIA, da metal opera AINA, do ousado projeto nacional HAMLET, do disco ao vivo do DR. SIN, do ótimo debut do KARMA (ironicamente, de Thiago Bianchi), do thrash metal do KORZUS, do hard em espanhol do AVALANCH, só para citar alguns. Participou ainda do disco solo de Luca Turilli (RHAPSODY), e fez backing vocals no ótimo "Consign To Oblivion" do EPICA. Nos anos 90 já havia deixado sua marca em colaborações com a exímia banda progressiva alemã SUPERIOR, com os italianos do TIME MACHINE, os latinos do NEPAL, com o guitarrista brasileiro RODRIGO ALVES, com o supergrupo prog LOOKING GLASS SELF (demo), dentre inúmeros outros.
Saiu, ainda, do âmbito do hard/heavy, aparecendo nos discos do produtor CORCIOLLI, do SAGRADO CORAÇÃO DA TERRA (de seu amigo MARCUS VIANA, no lindo "A Leste Do Sol, Oeste Da Lua"), no DVD da banda de blues Irmandade do Blues, sempre mostrando um lado eclético e sofisticado, que tinha - e sempre teve - tudo a ver com sua própria música. O ápice de sua ousadia se deu quando interpretou o papel principal na rock opera "Tommy", do The Who, ao lado da Banda Sinfônica Jovem de São Paulo (recentemente repetiu a dose fazendo os vocais para "Journey To The Center Of The Earth" de Rick Wakeman - porém, à época de "Tommy", Andre mostrou-se como verdadeiro ATOR, o que certamente encantou e surpreendeu ainda mais aos fãs).
Andre sempre SURPREENDE. Ir a um show seu ou de suas bandas é, via de regra, não saber a surpresa que este irá preparar. Desde a época de ANGRA, temos disponíveis bootlegs em que a banda mandou covers dos mais inusitados, indo de Iron Maiden e Black Sabbath, a nomes como Steve Wonder, ZZ Top e Stephan Eicher. Na "Ritual Tour" com o SHAMAN, a longa turnê gerou momentos inusitados, com tributos a Ozzy, ao Viper, um show antológico ao lado do Karma no antigo "Blen Blen" em SP, além de recursos impactantes, como a famosa bateria-elevador de Confessori. Um épico encontro com diversos convidados foi ainda registrado no DVD ao vivo "RituAlive" (2003). Na "Reason Tour", de tom frio e sombrio, chegaram a abrir para a clássica banda Nektar, ao lado do Violeta de Outono, oportunidade em que mandaram o excelente "Reason" praticamente na íntegra.
Talvez a grande "bola fora" da carreira de Andre tenha sido a inexplicável aproximação com Timo Tolkki (Stratovarius), formando o SYMFONIA, uma espécie de "seleção do metal melódico" em 2010. Foi das poucas vezes em que vimos Andre seguir uma sonoridade assumidamente clichê, pouco tendo o que se destacar em termos de evolução musical. O disco e a turnê foram igualmente mornos.
Porém, retornando à carreira principal de Andre, com tanta versatilidade, criatividade (nos álbuns e nas turnês), sendo compositor de mão cheia... cabia a pergunta acerca de qual seria seu próximo passo.
E a empreitada foi seguir solo. Um "solo", que era uma banda. Contou por algum tempo com o velho companheiro Luis Mariutti, seguiu com Hugo Mariutti nas guitarras, com Fabio Ribeiro, com o guitarrista André Zazá Hernandes (Sunsarah, Angra), além de revelar bateristas do porte de Eloy Casagrande (Banda Gloria, hoje no SEPULTURA).
Após uma estréia vitoriosa com o melódico "Time To Be Free" (2006, não tão ousado como outrora, mas com seus fortes momentos pesados e experimentais), uma espécie de 'brinde' à sua própria carreira, Andre encantou a todos com "MENTALIZE" (2009) - quando se aproximou do produtor CORCIOLLI, famoso pela filosofia New Age e pelo selo Azul Music. Com forte ênfase nas letras e na sofisticação da música pesada, lembrou os tempos de Shaman, quando se aproximou do também mestre Marcus Viana, isto é, trazendo para o Heavy Metal refinamento e profundidade por meio de novos elementos, com sua latente aura progressiva. No caso de Corciolli, a nova filosofia influenciou também as belíssimas letras de Andre no disco. Era, mais uma vez, a "nova forma" de se fazer música pesada...
ANDRE atualmente mora na Europa e segue livre em carreira solo. Recentemente lançou o ótimo "The Turn Of The Lights", seguindo a forma pouco usual de fazer Heavy, embora mais contido em inovações - incluiu, no entanto, covers que foram de Queensrÿche a Radiohead. Ainda arrumou tempo para fazer uma turnê comemorativa ao lado dos amigos de VIPER e, por fim, anunciar que na turnê do novo álbum incluirá a execução, na íntegra, do "Angel's Cry" de 1993. Esperamos que faça o mesmo com o épico "Holy Land" quando a hora chegar...
Este é Andre. Um INOVADOR da música pesada, e tem todo nosso respeito...
Nenhum comentário:
Postar um comentário